domingo, 25 de dezembro de 2011

O Natal

Feliz Natal? A quem serve a data que foi usurpada de Cristo? Quem entende o que de fato disse Cristo? Como entender o milagre da multiplicação dos pães e peixes? Até quando permanecer no entendimento conveniente e preguiçoso do evento mágico e ignorar que o verdadeiro milagre não é desafiar as leis da física e sim fazer as pessoas compartilharem? Até quando ignoraremos que há duas maneiras de conceber a história: (1) a comida surge do nada; (2) as pessoas, tomadas pelas palavras de Cristo, fazem o verdadeiro milagre: cada um coloca o que tem na cesta e a comida "se multiplica". Pergunte-se: afinal, qual é o verdadeiro milagre? Você cristão: há nesta doutrina um chamado que conclama seu seguidor a muito mais do que agradecer pelo seu. Este é o Deus Vivo. Todo o resto é o Deus Morto. O Natal concebido atualmente é o Deus Morto. Se coisa do Deus vivo fosse, pense você: até quando você vai aceitar que sua ceia provoque coisas como esta neste vídeo? Veja bem: é para cear sim. Não é para não celebrar. É sim para deixar a ignorância de lado. ELE mesmo não disse que a verdade nos libertaria?

Enfim... que assim seja um Natal feliz.


domingo, 30 de outubro de 2011

Assunto: concerto da OSESP, da OSP (Sinfônica do Paraná) e Lula


No começo do mês estive em São Paulo para prestigiar a oitava sinfonia de Mahler. É mais do que um concerto. É o evento! A Oitava de Mahler é possivelmente uma das mais grandiosas peças sinfônicas, mais ousada e mais cara do repertório orquestral. É uma massa orquestral imensa, metais que tocam fora do palco, um coro misto enorme, coro infantil e oito solistas, salvo engano meu. A minha expectativa era grande visto que OSESP jamais me decepcionou. Vi com esta orquestra uma Elektra, um Cavaleiro da Rosa, uma Nona de Beethoven, uma Canção da Terra na versão de Schoenberg, a Terceira, a Quinta e a Nona de Mahler, uma Vida de Herói do Strauss, entre mais alguma coisa, e transcorreu tudo no mais absoluto e elevado nível. Coincidência ou não, exceto as sinfonias de Mahler, todo o restante foi durante a regência do Neschling. Mas a Oitava deixou a desejar. A orquestra estava magnífica e o coro também. O problema, ao meu ver crucial, foi a solução usadas para os solistas. Quem conhece a Sala SP sabe que ela não tem um palco muito grande. O coro ocupou o seu lugar de costume e a orquestra cobriu inteiramente o palco. E os solistas? Estes ficaram atrás da orquestra e na frente do coro. Pergunta: como ouvi-los? Sim sim... Microfones! Ao comentar do esdrúxulo procedimento com um professor da faculdade que muito adora esta arte ouço o seguinte “Mas daí estragaram tudo!”. E de fato. 

A Sala SP não é grande. Penso que em primeiro lugar poderiam ter tirado alguns componentes da orquestra, assim como enxugado o enorme coro. Foi frequente a sensação de confusão sonora que, acredito eu, foi decorrente do excesso de músicos. Sabemos que a Oitava de Mahler é mesmo excessiva, mas daí quando esta superlatividade compromete a própria inteligibilidade sonora penso que a coisa possa ser diminuída. Talvez, não sei bem, o som do coro tenha sido captado pelos microfones e ampliado a sensação de confusão na sala. Mas se fosse só isso, a noite teria sido proveitosa! O que ocorre é que com solistas microfonados não há arte lírica que preste! Toda a noção de técnica, de projeção, de squillo vocal torna-se secundário. Ouve-se o canto lírico justamente porque é uma arte sem intermediários, sem microfones, sem mesas e caixas de som. E nesta noite nem se ouvir alguma coisa se ouviu! Eu me sentei na segunda fileira, justamente com a perspectiva de ficar perto dos solistas. Dali não se ouviu absolutamente nada. Nenhum solista. A intervenção do barítono, na última cena do Fausto, foi um anti clímax absurdo posto que passou em branco. Não consegui ouvir nenhum dos cantores sequer minimamente para dizer se foram bem ou não. Esforço, nesta toada, mais intenso fiz com relação ao tenor da apresentação. Eu sou um entusiasta da voz do tenor e queria ver alguém fazendo o Doctor Marianus ao vivo. Notório que se trata de uma parte difícil, com muitos agudos, demandando uma técnica sólida. O resultado , todavia, foi pífio. Além de ter de fazer esforço para ouvir, pois as caixas de som estavam com um volume mal regulado, o que vi (e ouvi) por parte do tenor foi de uma mediocridade ímpar. Tive a sensação de que oitavou alguns dos agudos mais apoteóticos para baixo! E que uma hora usou falsete! Claro que o microfone pode ter me enganado, mas tenho quase que certeza que o tenor fugiu dos agudos de uma forma ou de outra. Não tem escapatória, principalmente neste “papel” há de se dar os agudos, senão a coisa fica deveras prejudicada. Que me sobrou? Prestar atenção na orquestra e no coro, que foram o alento da noite.

De tudo isso, desta solução ridícula usada para os cantores principalmente, posso dizer que pela primeira vez uma apresentação da OSESP me desapontou. Sabemos que Mahler é um exagero, um mundo! Mas em nome da musicabilidade e razoabilidade, poderiam ter diminuído um pouco o efetivo e colocados os solistas na frente. O som sairia menos embolado. Os cantores seriam ouvidos melhor. Já vi apresentações em lugares enormes com um colosso orquestral. Por que então, em um espaço mais diminuto, não diminuir as proporções? Trata-se inclusive de um respeito com o cantor. Alfredo Kraus já dizia, em interessantíssimo livro sobre a arte do canto de Artur Reverter, que o crescimento desmesurado das massas orquestrais, no mais das vezes, prejudicou a função do cantor, obrigando-o a cantar sempre forte para suplantar a barreira musical profunda de um efetivo superlativo que, muitas vezes, não executam um  bom controle de dinâmica,  resultando em execuções nas quais nem sempre se ouve os solistas a contento, mesmo que emitam a todo o vapor. Teatros cada vez maiores, cenários no fundo do palco teatral. Em suma, uma espécie de complô contra a técnica e arte vocal. Resultado? Empobrecimento da técnica, do resultado e, frequentemente, inaudibilidade! Pois foi o que ocorreu nesta apresentação da OSESP.

Ainda quero ressaltar o declínio dos programas de concerto! Nos tempos do Neschling, e em que pese sua aparente difícil personalidade devo dizer que o admiro como regente e diretor artístico, o programa custava dez reais e era um verdadeiro livro. Nada mais acrescentar. Tinha até uma aba na contracapa para destacar e, quem sabe, usar como marca página. Depois da saída do impetuoso maestro, tivemos o insípido maestro francês e agora maestrina Marin Alsop, de quem não posso opinar. Posso dizer que o programa, de livro, foi ficando um livro fino, que por sua vez virou uma revista, mas ainda conservando a lombada de livro até que, nesta mesmíssima apresentação da Oitava de Mahler, deparei-me, pelos mesmos módicos dez reais, com um programa de concerto em forma de revista, inclusive usando grampos. Eu acho que alguma conclusão dá para tirar da derrocada qualitativa dos programas, que parecem denotar um desapego cabal pela capricho; assim como da solução usada para a orquestra e para os cantores na Oitava de Mahler: estragaram uma belíssima sinfonia de notória raridade em termos de execução. O maestro da ocasião, Rozhdestvensky, é de uma competência inquestionável, ainda mais do alto de sua idade e experiência. Parece-me, no entanto, difícil de acreditar que a ideia dos solistas tenha saído da cabeça do maestro. De qualquer forma, não dá para saber de quem é a responsabilidade de uma ideia tão esdrúxula quanto a que foi utilizada. O certo é que se houvesse alguém que realmente se preocupa com a arte naquele lugar e que tivesse condições de influenciar os resultados, dificilmente teríamos o fim que tivemos, tanto em relação ao concerto quanto a simplificação do programa. Pessoalmente e indubitavelmente, só vi retrocesso.

De outro lado, na semana passada, vi um concerto da querida Orquestra Sinfônica do Paraná que, ao que parece, ressuscitou das cinzas. No governo Requião ela vinha sofrendo um desmonte raivoso chegando a parecer extinta em muitos momentos. Com o governo Richa , há suspeitas de boas mudanças. Sabe você leitor, não gosto do PSDB, nem tucanos. Este governador para mim é um engodo. Ainda mais quando este fez parecer, quando da assinatura da lei da Defensoria Pública, “não estar fundamentalmente atendendo o pedido (pressão) de ninguém e sim cumprindo uma promessa de campanha”, buscando ressaltar que ninguém tinha o impelido àquilo, ou seja, que o movimento "Defensoria Já" nada tinha a ver com a assinatura. Podia até ser promessa de campanha, mas nada mais elegante do que reconhecer o belíssimo movimento em prol da defensoria encabeçado pela grande professora de direito penal da faculdade  de direito da UFPR Priscilla Sá. Enfim... pelo menos surgiu neste ano uma programação anual, coisa que jamais vi, pelo menos desde 2004, na OSP. O regente titular mudou: agora trata-se do português Osvaldo Ferreira de quem nunca ouvi nada e , logo, não posso opinar. Todavia posso opinar do concerto que vi da OSP, nestes últimos dias. E veja só leitor, que legal! Com a regência de John Neschling.

Do concerto, posso dizer que foi vibrante. Não sei até que ponto o Neschling animou a orquestra, mas fato é que fazia muito tempo que não via a querida OSP deflagrar um som tão bonito e enérgico. O programa foi a Abertura Concertante , do Guarnieri, o Primeiro Concerto para Piano do Liszt e a Segunda Sinfonia de Brahms. Todas as obras foram executadas de forma incontestável. O solista da noite, inclusive, foi irrepreensível. Se esbarrou nas notas, foi imperceptível. Um fraseado inteligível e, algo que aprecio muito, uma bela presença de palco. Aliás, presença de palco é o que tem o grande maestro Neschling. Só lamento que, parece-me, ele tenha envelhecido muito desde a última vez que o vi, em 2007. É sabido que ele ficou seriamente doente neste ínterim mas também, e isso sou eu que acho, o fato de ele ter sido perseguido, ejetado e despojado daquilo que, talvez, tenha sido a obra de sua vida; o fato disto ter ocorrido da forma mais truculenta e ridícula possível, produto de uma das mais belas e impávidas figuras guardiãs da cultura nacional da política do Brasil, José Serra, deve tê-lo desgastado até a medula. Apesar disso, lá estava Neschling, sem batuta (aliás este utensílio sempre me soou inútil e tolhedor de movimentos) regendo de forma ímpar, com o seu “jeitão” (quem viu, sabe como é).

Claro que não posso me furtar de dar destaque para a plateia curitibana. Quem me conhece sabe que sou cáustico com a elite cultural dessa cidade: querem ser Viena sendo que lá fora continuarão sendo não menos latinos do que de fato são. A elite cultural desse lugar nunca me animou. Talvez no teatro a coisa seja um pouco melhor. E em termos de música antiga/barroca também, afinal temos a camerata que goza, ao que parece, de sólido prestígio (eu não sei porque não sou lá muito fã do repertório). Mas em termos de música sinfônica e óperas, a coisa tem sido bem medíocre. Em termos de ópera, não é nem medíocre: inexiste. Isto porque há uma montagem na vida e outra na morte. E quando há, são montagens com cantores dos quais nada se ouve, em parte pela orquestra mal regida e, do outro lado, por causa dos cantores  de técnica claudicante. Lembro de uma Boheme com um bom Rodolfo que, no entanto, foi fulminado por um cenário risível, que colocava os cantores praticamente no fundo do palco. Claro que, para amenizar, estavam lá os famigerados microfones. Sabemos que a acústica do Guairão é, mínimo, enigmática... Também vi um Rigoletto que não me impressionou nada, ao contrário, só me molestou. Lembro o que o personagem título era um barítono de voz vigorosa e boa presença de palco mas o Duca foi lamentável. O La Donna è Mobile foi terrível, sem o famoso floreio final. Si agudo no final, só nos sonhos. Melhor era ir para casa e botar o Kraus para cantar. Recordo-me ter lido na época que era Neyde Thomas quem dominava o cenário em termos de botar seus pupilos para cantar no Guaíra. Posso dizer que ela foi uma grande cantora, mas de resto... Melhor nem comentar.

A verdade é que, em Curitiba, a coisa é sofrível. E torna-se pior ainda porque se trata de uma gente que se acha melhor do que os outros, sem entender bulhufas do que vê e ouve. Pagam horrores para ver um tenor como Jose Carreras, que hoje, infelizmente, não possui sequer um vestígio do que um dia o tornou notável, e acham que fizeram um ótimo negócio, de qualidade artística ímpar, suprema consagração lírica. Enfim... no concerto da OSP regida pelo Neschling houve a seguinte cena: maestro parando o concerto para piano do Liszt no meio, no MEIO, para dar uma dura em alguém da plateia que, talvez por ser concerto gratuito, achou uma ótima ideia levar uma criança de, sei lá, uns 3 anos, para assistir um programa de duas horas de duração! Lamentável... bom senso passa longe. De resto, a mesma velha pataquada de sempre: aplausos para cada movimento da sinfonia do Brahms! Sou da opinião que a pessoa deve aplaudir quando der vontade, apesar de quebrar a unidade da obra (e quebra mesmo...). Quer dizer: se aplaudirem, paciência. Mas de todo o modo, não combina com a tal da capital de primeiro mundo os tais aplausos na hora errada....

Esquecendo esta minha antipatia por esta elite cultural mequetrefe e pela falta de bom senso das pessoas, devo dizer que o Concerto me deixou muito feliz. Parece que a OSP finalmente vai ressurgir com boas perspectivas para o futuro. De tudo isto, no mais puro estilo Pig's Tale: méritos para a OSP e deméritos para a OSESP.

Em tempo: desejo melhoras para o presente Lula! Que se recupere logo. Agora eu acho interessantíssima as manifestações de ódio em relação ao ex-presidente. Até o Dilmenstein (assim que se escreve?) se pronunciou contrariamente a esta orgia do mal gosto de parte dos brasileiros. Dizem para o Lula usar o SUS: parece-me que quem usa este argumento não vota nele e sim no grandioso José Serra, este gênio brasileiro. Mas o que este gênio brasileiro e seu ridículo escudeiro FHC fizeram pelos pobres do país, que são os que usam o SUS, durante este tempo todo? Muito pouca coisa. O Presidente Lula teve sim falas infelizes, mas ele chegou e fez. E nos lugares de sobriedade cultural real como Paris e Coimbra (escutou Curitiba?) ele é reconhecido por seu colosso de obra social. Agora que, vitimado por um câncer, convalesce desta maldita doença, os opositores mal educados tratam de tripudiar em cima de sua dor. Pois estes que escrevem no UOL para que ele use o SUS, provavelmente não usam o tal do SUS, muito pelo contrário. Escrevem para ele usar o SUS se apegando numa das falas infelizes deste presidente mítico na tentativa de combatê-lo não como um adversário honrado faria, mas como um adversário covarde e desleal, aproveitando-se do infortúnio que é ser vitimado de câncer. Escrevem para ele usar o SUS não porque se revoltam com a calamidade que ainda é o sistema de saúde público brasileiro e porque se preocupam com o brasileiro ferrado de cada esquina; fazem isso para ridicularizar um sindicalista, pobre e nordestino, que foi melhor que todos na presidência e é reconhecido internacionalmente por isso; porque não escodem a dor de cotovelo ao perceber que a posição da elite não é, na grande maiorias dos casos, por merecimento e sim por mera eventualidade; porque com a ascensão do torneiro mecânico que mudou o Brasil, perceberam que a mediocridade na qual vivem nem de longe faz merecer a posição social de prestígio que ostentam desde sempre neste Brasil banhado em sangue negro e indígena (como diria um certo Darcy); fazem isso porque Lula fez o brasileiro acreditar e a falta de esperança é o motor que alimenta a fogueira desta ridícula e prepotente elite brasileira. Afinal, o que esperar dessa gente senão a costumeira truculência com a qual se expressam desde priscas eras? Não é mesmo?

Igor Augusto

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sobre meninos e meninas


“Seu viado!” Caro leitor, deixe-me primeiro estabelecer um axioma neste parágrafo introdutório. A expressão entre parênteses constitui um xingamento na sociedade brasileira. Mas porque chamar alguém de “viado” (sendo fiel à pronúncia ) é um xingamento no Brasil? Pior, porque nós nos ofendemos com isso? Ninguém gosta de ser chamado de viado. Raízes históricas aqui não me interessam. O que interessa é dizer que o tal xingamento é xingamento porque ser homossexual na nossa sociedade ainda constitui anomalia, conduta fora da curva. E aí que digo: tal tratativa só será corrigida quando o homossexualismo for visto com naturalidade; não como prática obscura, das perversões noturnas, da sexualidade exacerbada nas esquinas mal cheirosas e mal iluminadas de nossas sacrossantas cidades. O homossexualismo só será visto como imanente à natureza humana ( a real e não a ideal dos credos religiosos) quando aprendermos que ela pode comportar um romance, uma paquera, uma união estável, um casamento, amor e ternura. Tal como acontece no exercício da heterossexualidade. Mas, caro leitor, também afirmo que uma ideia dessa assusta porque não é possível simplesmente ignorar o conformamento anti homossexual que recebemos de todos os lados desde que nascemos. A heterossexualidade como standard está incrustada na nossa consciência e é necessário um trabalho árduo para vencer o preconceito que brota dos nossos intestinos (Platão dizia que os sentimentos menos nobres vinham dessa região anatômica) quando o assunto é o homossexualismo. Eis, portanto, o axioma: só venceremos tal iníqua situação quando tornarmos a diferença um algo natural.

Tornar natural, hodierna, tranquila, ao meu ver, é o que justamente os vídeos componentes do kit anti homofobia (Torpedo, Encontrando Bianca e Probabilidade) do governo federal tentam fazer. É claro que assustam a primeira vista. Porque mostram com naturalidade o que nós fazemos questão de varrer para debaixo do tapete, de ignorar existência para nos sintamos bem, bons religiosos e destinados ao paraíso celestial. Como já disse, a conformação preconceituosa que recebemos da sociedade faz difícil este exercício de aceitação das diferenças. Eles são destinados para adolescentes, cursantes do ensino médio. Um deles mostra um menino que se descobre bissexual. Ora, bissexualismo não comporta lugar na sociedade? Não é fato que, por trás da hipocrisia que às claras só admite o que deus preceitua, o bissexualismo faz também parte da natureza humana, assim como a coloração da pele, as diversas alturas, as várias línguas? E por que devem elas ser banidas? Por causa da seletividade religiosa que acha muito mais fácil pegar um versículo anacrônico do velho testamento e impô-lo, deixando o mandamento mais radical e desafiador que Cristo enunciou para quando for conveniente? Os outros vídeos tratam de lesbianismo e transsexualidade. Faço valer para estes casos o mesmo comentário que fiz sobre o bissexualismo.

Digo para você, leitor, que são vídeos ternos, tranquilos e diretos. É de se esperar, portanto, a reação intestinal maciça da maioria das pessoas. Mas curiosas mesmo são as reações que pude encontrar no blog do Paulo Henrique Amorim. PH é um baluarte do combate ao mau jornalismo, ao corporativismo jornalístico vergonhoso, à atividade político-partidária vergonhosa empreendida por uma mídia elitista e corrupta. Seu blog abrigou importante centro de combate ao candidato Serra. Logo é um recinto da “esquerda”, se é que tal nomenclatura ainda faz sentido. Enfim, é o reduto da oposição ao machismo, ao elitismo, à homofobia. É o reduto da defesa pela emancipação das minorias, dos oprimidos, dos pobres. Interessante foi o modo como PH capitaneou a luta contra o candidato Serra e a maneira como denunciou a participação em atividades religiosas nas quais garantia o veto a propostas de cunho anti-homofobia. E seus leitores-comentadores apoiavam incondicionalmente. Faço este parênteses porque comentar justamente o comportamento de boa parte desse pessoal: totalmente reacionário em relação aos vídeos do MEC. Como entender isso? Os vídeos, como eu disse, vão muito além pois a pior agressão que a mentalidade espúria do preconceito pode sofrer é a verdade de que a diferença de cunho sexual pode ser tão ou mais amorosa que a velha e batida heterossexualidade. Diante de tal argumento apresentado nos vídeos, esse pessoal, outrora defensores da vanguarda contra o preconceito e oportunismo tucano, vestiu a carapuça do reacionarismo. Tudo porque, mesmo defendendo Dilma, o direitos dos pobres, nordestinos, negros , índios e adjacências, parece-me mesmo que para esse pessoal, os gays tem direitos desde que o gay não seja seu próprio filho, não seja da família. O gay tem direito de ser gay desde que não apareça,desde que não se manifeste. O pessoal que condenou o candidato Serra por seu moralismo de quinta categoria, diante da tentativa salutar de tratar o assunto com naturalidade, expõe o preconceito dissimulado pela aparência da vanguarda emancipatória, deixando escapar os sentimentos rasteiros provenientes do duodeno quando se pensa na possibilidade de se pensar em ter um filho em uma das situações descritas no vídeo. E contando que esses vídeos não constituem apologia porque se assim fosse, a apologia maciça que se faz hodiernamente a heterossexualidade seria capaz de demolir a homossexualidade. Não esquecendo também que as diversas opções sexuais existem desde sempre, para além dos ensinamentos obtusos e anacrônicos das religiões hipócritas.

Pode se objetar que o público não seria exatamente o mesmo que se manifestou no blog contra o candidato Serra e suas ideias, e de fato não deve ser mesmo. Pelo menos não exatamente as mesmas pessoas. Mas o público que acompanha continua o mesmo. E pela amostragem, mostrando um grande número de pessoas desaprovando os vídeos, não posso deixar de acreditar que, pelo menos, se tratam de pessoas componentes do público de PH e partidários das ideias de igualdade social promovidas pelo governo Lula/Dilma.

Trocando em miúdos, penso que este medo da tal apologia dissimula o horror destes pretensos defensores de direitos de que eles tenham a ter um filho gay. Repito: reconhecem direitos porque hoje, para quem tem o mínimo de brios, é feio fazer diferente. Mas fazem isso desde que o gay não aconteça dentro de sua casa, dentro de sua família.

É possível, ainda, estender esta crítica às demais pessoas que se manifestam nos espaços de comentários abaixo das notícias, como ocorre no UOL. A franca maioria aparece dizendo respeitar os homossexuais para em seguida usar argumentos sob os quais os vídeos seriam não só apologias, mas talvez uma imposição de foro íntimo (???). Meus caros, até a presidente da república, que muito respeito,  escorrega feio quando afirma que tais vídeos seriam "propaganda de opção sexual". Pois ora, se passarmos Romeu e Julieta para os adolescentes conhecerem Shakespeare, estaremos diante de um monumento à humanidade, uma joia da literatura e do gênero humano como um todo. Se , no entanto, der na telha do educador exibir o Segredo de Brokeback Mountain,  outra joia artística de sensibilidade ímpar, vejam bem, com a cena de sexo cortada (para acalmar os de alma sensível)! Só com as cenas de demonstração de afeto dos cowboys! Aqui , em vez de um amor bonito, teríamos, na opinião douta da presidenta, dos falsos apoiadores da diversidade e hipócritas de todas as medidas, propaganda de opção sexual! Um perigo para nossos pimpolhos, que correrão o risco de se tornarem seres pervertidos, heréticos, um horror. Temos propagandas ternas que mostram o amor heterossexual, e nada é dito sobre se fazer propaganda de opção sexual de modo a soçobrar a natureza homossexual, desrespeitando-a. Mas se temos vídeos de ternura homossexual, aí fazemos apologia, propaganda de opção sexual, tentativa de induzimento, destruímos a família, banhamo-nos no enxofre, suprema iniquidade!

É também curioso, voltando ao público de PH, que essas mesmas pessoas engrossam o coro do jornalista contra a imprensa brasileira de cunho golpista. E é curioso porque a Rede Globo, estandarte desta turma reacionária, tendo o papel que tem de conformar pautas sociais, de decidir o que se discute e o que se ignora na sociedade, não faz o mínimo esforço para acabarmos com esse preconceito estúpido. Quando o comentarista do site do PH fala algo como “os gays devem ter direitos mas isso não significa que ser gay é bom ou normal” está sendo mais um parceiro de estultice daquela mídia que este mesmo comentarista ama odiar.

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Outras observações:

Muito curioso também é o fato de que esse mesmo tipo de comentarista do site de PH entronizou uma espécie de cegueira para com o governo da situação. E tanto é assim que quando este mesmo PH critica o governo que ele próprio ajudou a eleger, realizando salutar tarefa democrática e republicana, chovem comentários dizendo que o saudoso jornalista “se vendeu”, que trabalha para o tal PIG. Meu caro leitor, parece ser fato que Palocci enriqueceu absurdamente tanto enquanto deputado federal quanto nos meses que se passaram da eleição de Dilma até sua posse na casa civil. Seria de se esperar que, pelo espírito republicano, este senhor viesse a lume explicar o que se passa com tanto dinheiro. A coisa engraçada foi o governo ter recuado atendendo exigência da bancada evangélica: ou cancela a distribuição desses vídeos heréticos ou levamos a diante uma investigação mais apurada contra o eminente ministro. Eis que então o governo resolve capitular. E isto é engraçado porque, nos comentários do site do PH, além das pessoas acusarem o PH de ter se vendido, alguns mencionarem que o Lula não erra (seria Lula ou um deus?), que Dilma também sabe o que faz, também usaram o episódio Palocci como se este fosse um perfeito bode expiatório para justificar a capitulação em relação aos vídeos anti homofobia. Se a presidenta sabe o que faz, se Lula também está livre de erros, manter o Palocci é justo e tal negociação com a renitente bancada evangélica teria vindo muito bem a calhar porque os vídeos eram, nas palavras de alguns também, “equivocados”.

Esta embricamento, feliz coincidência, da condição imposta pelos evangélicos para aliviar pro eminente ministro, é difícil de se analisar em sua inteireza e nem objetivo isto aqui. Mas que teve quem usasse de tal expediente para resolver dois problemas numa tacada só, teve! Como é possível se depreender dos comentários no site de PH.

Se o embricamento é complicado de se esmiuçar, claro como o dia numa manhã fria de sexta em Curitiba é o fato de que o princípio republicano que nos rege torna necessário que os administradores públicos prestem conta. Nem tudo que é legal é moral. E Palocci já foi defenestrado pela acusação de ter quebrado um sigilo de conta bancário de simplório caseiro. Fato é que tamanha quantidade de dinheiro brotando do nada na conta de um eminente ministro da casa civil não é algo que o brio republicano nos permita ignorar. Fato também é que quando este senhor se recusa a explicar, está cuspindo na cara de quem elegeu a presidente desta república federativa.

Quero lembrar aos senhores leitores que o mensalão, como diz propriamente Mino Carta, carece de provas mas que o financiamento ilegal de campanha se apresenta como calcanhar de aquiles da eleição de Lula em 2002. As investigações são muito claras em afirmar a existência desse financiamento ilegal que pode constituir crime de responsabilidade para o mandatário que dele se serviu para chegar ao posto mais alto do poder executivo brasileiro. Se já tivemos um Dantas, um Valerioduto e uma Erenice, não precisamos de novo de um pesadelo imerso em segredos e maquinações que são, do ponto de vista republicano, inadmissíveis. Concordo com o jornalista PH quando este diz que tanto dinheiro sem explicação levanta suspeitas até mesmo em relação ao financiamento de campanha de Dilma. Assim nós vemos que república mesmo, só no papel.

Termino dizendo que assim como o homossexualismo acaba sendo desaprovado inclusive por pessoas que se dizem defensores dos direitos gays (não são todos que são hipócritas assim, por óbvio), os bons valores republicanos são nublados por uma seita pró governo que não aceita críticas e parece confiar cegamente no que seus mandatários fazem. Algo que lembra aquela história que dizia mais ou menos assim: “não pense meu filho, deixe que o Führer pense por você”.

Remates sobre tudo isso que nos inunda olhos e orelhas parecem-me por demais complexos no momento, mas sei dizer que os valores pregados, em um caso e no outro, valem até serem barrados pela conveniência, pela tranquilidade do status quo, pela o exercício acrítico da cidadania política. E ao final, a alteridade e a república continuam atrás no placar; perdendo para outros elementos de obscura sensatez.

IK

domingo, 10 de abril de 2011

Realengo

Até tentei me conter mas não deu. Quero comentar o jornalismo de ótima qualidade da Globo em cima da tragédia carioca. 

A tragédia é lamentável e a dor das famílias é algo aterrador.  Mas as conclusões que se tiram do fato são ridículas. Teve de tudo: articulista falando de violência pós-moderna, aquela que não teria causa. Será?; Apresentadora de Jornal Hoje perguntando se não havia detector de metais nas escolas brasileiras! Sim, porque as escolas brasileiras são muito bem financiadas, os salários são ótimos para os professores, as condições de serviços, maravilhosas. Mas não é só isso. O que ocorre é que as escolas, segundo o próprio comentarista convidado pelo Bom Dia Brasil, ex-membro do BOPE, cada vez mais se abrem para a comunidade. Elas não devem se cercar como condomínio de luxos, devem entrar em simbiose com a sociedade; outra delicadeza intelectual é Bonner tratando a tragédia como problema de segurança pública. Pergunta: isto é corriqueiro no Brasil? Antes de sair culpando a segurança pública é importante saber que o assassino não invadiu nada. Era ex-aluno e se identificou na entrada. Havia ainda pedido histórico antes do acontecido.

Mas não é tudo. O Fantástico deu realmente um show! Exibiu reportagem na qual simplesmente ignorou as menções a Jesus do assassino em sua última carta e focou na obsessão por Bin Laden. Por que será? Ignorou também uma susposta participação do assassino na Testemunha de Jeová? Por que será? De certo porque, como diz bem o grande intelectual da alcova Ali Khamel, não somos racistas e nem existe assassino movido por ideais sectarios, fundamentalistas de cunho cristão. Não há racismo no Brasil. Também não existem fundamentalistas cristãos. Muito menos a ponto de levar as últimas consequências os delírios solitários. O cara podia amar o Bin Laden e vibrar com homens bombas, mas também falou em Jesus. E é como se não houvesse possibilidade de haver ações violentas fundamentadas no cristianismo. Claro, as cruzadas foram um convite à fé cristã, educado naturalmente. É claro que não se trata de acusar vertentes cristãs, digamos, um pouco mais renitentes nos costumes, de incitar assassinatos de pequenos. Mas eu afirmo que há seitas de todas as religiões que oferecem ensinamentos pouco saudáveis que, na interpretação de um maluco, oferece o fundamento teórico e espiritual para se proceder a barbárie.

Quanto ao fascínio da Rede Globo pela obsessão de Wellington com Bin Laden e o islamismo é explicável porque, como nos ensina o solidário mundo ocidental, se tem assassinato com motivação religiosa só pode ser coisa de muçulmano! 

Vi o mundo trouxe entrevista com o especialista americano William Modzeleski em casos de chacinas promovidas por jovens e este diz: pouco importante é saber se o cara tem ou não doença mental. Os jovens matam, sejam mentalmente sãos ou não. A tese da globo é: diagnosticar o assassino como esquizofrênico e, literalmente, dizer que o bullyng sofrido nada teve a ver com o assassinato. Por que então ele resolveu matar na escola? Acaso? Diz o especialista americano que o mais importante é ouvir os sinais que essas pessoas dão: elas apresentam o desvio, publicizam isso. São as pessoas e instituições que não ouvidos. A própria reportagem global, através de depoimentos de colegas de Wellington, confirmaram as atrocidades às quais ele era submetido: era colocado na privada, puxavam a descarga, as meninas passavam a mão nele e depois o ridicularizavam. Então o assédio moral não teve importância Rede Globo? Resolveu ele mantar na escola e principalmente meninas por que Rede Globo? Porque o bullyng é irrelevante diante do quadro de esquizofrenia suposto? O próprio especialista responde: matam em escolas porque é lá geralmente que eles sofrem os traumas mais significantes, as violências perenemente fincadas no cérebro e na alma. Óbvio que podia ser doente, mas igualmente óbvio que ele deu sinais e ninguém ligou. Óbvio também que, a exemplo de Columbine, este rapaz sofreu crueldades e permitiram que assim acontecesse. A mesma Escola que hoje sofru a tragédia.

Digo isso porque acho um estupro intelectual a Rede Globo pendurar a tragédia no pescoço da má segurança pública ( mas a escola tinha até circuito interno de tv!!) e exclusivamente na doença. Trata-se ao meu ver de uma confluência de fatores: o rapaz devia ter perturbações graves que foram potencializadas e, principalmente, direcionadas por violências sofridas quando cursava aquela sétima série naquele colégio de Realengo. Ignorar esta segunda parte é eximir a sociedade de sua responsabilidade. Pior: é anistiar as crianças que maltratam colegas, pais que apoiam ou se omitem em relação ao comportamento dos filhos, a insensibilidade que recai em parte significativa da instituição Escola e de seus funcionários, a consideração pífia destinada pelo poder público a educação brasileira que, em sua grande parte, tem professores em situação de petição de miséria para poder se preocupar devidamente com os alunos, problemas socias gerais de relevância, homofobia, Bolsonaros, preconceituosos de todo o gênero, a sociedalde individualista, egocêntrica. Afinal, ninguém tem culpa. Segundo a Globo, digamos o seguinte: quem mandou esse Wellington ter problemas de saúde? Quem mandou ele ser vítima de bullyng? Já que assédio moral não significa nada, quem mandou a escola estar naquela localização geográfica bem na hora? Será que as escola brasileiras são seguras mesmo?, pergunta a Globo. Ou não seria esta sociedade egoista e cruel demais para compreender um ser humano com problemas que prefere um caminho perigoso?

Alguns me tacham de frio. Não é isso. Compadeço do sofrimento das famílias, mas a indiferença e a crueldade individualista matam muitos todos os dias. Creio que Wellington, ainda que seja uma aberração, um irregularidade na pacata curva brasileira, é um produto radicalizado da sociedade incrivelmente doente na qual vivemos.

Igor.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A queda da democracia

Sinto que estamos perdendo a guerra para o setor conservador. A tragédia no Rio de Janeiro, desconfio eu, deve ter trazido alento ao governo de São Paulo estado e capital. Desviou completamente a atenção das cheias dos rios, da capital inundada, dos paulistanos à mingua. A mídia conservadora segue no seu intento de fazer valer sua verdade, a de que Lula foi o culpado pela tragédia carioca. Afinal, a União investiu pouco, a União não previne, a União se omite. Se os repasses constitucionais são feitos e o dinheiro é mal utilizado pelo governo do RJ e das respectivas prefeituras, isso não importa. O que importa é bater na figura mítica do Presidente e, quem sabe, como diz Paulo Henrique Amorim, armar a cama de gato para limar a esquerda do poder deste país. Mesmo que este país cresça e as pessoas parem gradativamente de morrer de fome. Mesmo que os jornais internacionais destaquem o programa Bolsa Família como um fenômeno de distribuição de renda, somente equiparável ao Oportunidades do Mexico. O que importa é manter a colonização: sempre há quem ganhe com a pobreza. Sempre há quem se ache superior. Pois não acho que uma sociedade igualitáriamente rica traria tantos entraves assim para os ricos, que ficariam menos ricos, mas nem tanto. O sentimento de superioridade sócio-racial é maior: sim, porque o branco rico é mais e melhor do que o branco pobre, que deve pertencer à uma estirpe que perdeu conexão com a linhagem cristã pura, daqueles que são abençoados. De resto, pobres brancos e negros, pobres em geral, não são dignos. 

Não acho que, neste momento, os estudos sejam necessários. Estudos sempre são bem vindos, mas já temos o suficiente pra destrinchar o modus operandi dos inimigos da república, da democracia e da isonomia. Resta agora é agir. A tragédia do Rio de Janeiro, penso eu, faz aflorar o pensamento errático dos homens. Não escondo que movo uma cruzada contra a religião cristã, na maneira como é vivida, e contra a falta de apego à política, única forma de tirar as pessoas da miséria. No entanto, também reconheço as dificuldades de mobilização, de sair da inércia, de tentar bater de frente com o status quo: mudar a cabeça das pessoas é das mais ingratas tarefas. Os que sobreviveram às enchurradas do Rio não são abençoados por Deus, mas sim simplesmente sortudos. Benção não se distribui aleatoriamente ou por um merecimento ciclópico que leva a pessoa um pouco mais cuidadosa a se perguntar: a vida virtuosa tal como prega a religião me faz uma pessoa melhor a ponto de me escolher para a vida e condenar as outras, não adeptas, à morte? E como fica a morte dos adeptos? A frase mais perniciosa da história responde: pois Ele quis, pois Ele age de maneiras misteriosa, ou ainda que escreve certo por linhas tortas. Enquanto isso as pessoas chafurdam na miséria.

No mesmo país, São Paulo capital eleva o preço do onibus para 3 reais. Para se ter uma idéia, 0,80 centavos a mais do que o preço em Curitiba, a tal cidade modelo e maior engodo urbano produtora de aberrações políticas como Beto Richa e Cássio Taniguchi. O autobus de SP é para ricos, nem isso é para pobre. Pior é a forma como a PM paulista lidou com os estudantes que resolveram se manifestar contra este absurdo patético da prefeitura paulistana. Há o vídeo no You Tube e circulando pela blogosfera indenpendente, de alguns jornalistas corajosos. Trucuência policial não contra estudantes ranhentos, esquerdinhas ou maconheiros. É bala de borracha na democracia mesmo. Na república. Na isonomia, na dignidade da pessoa humana. Porque a polícia vira modo socialmente aceito de se sublimar o espírito cruel do ser humano, arranja-se uma forma aprovada socialmente para exercer o que, em outro lugar e em outra circunstância, é execrada de maneira intestinal pelos telespectadores (Alguém  lembrou do Sandro que esqueceu a primeira metade do nome?). E contra quem violentar? Contra os estudantes vagabundos, contra os pretos malditos, os nordestinos sujos que votam por comida (e que motivo mais nobre teria?).

Realmente a cobertura jornalística das enchentes do Verão de 2011 ficarão para história: obras políticas protetoras dos interesses dos dominadores, dos corruptos. Uma completa lavagem cerebral na cabeça do povo brasileiro que, apesar de mais nutrido, continua lamentavelmente perdido e ignorante. É uma obra prima. A isto soma-se a repressão tucana aos manifestantes na capital, que ousaram expressar descontentamente com uma passagem de ônibus de 3 reais. O que é veramente um absurdo. Chamem o Totó, a Mariana Ximenes, a Maitê proença dos cabelos congelados, que até prefere um pouco de truculência machista para salvar o Brasil da Dilma, a comunista comedora de criancinhas! Penso que há uma guerra neste Brasil. A guerra é por poder, e quem a alimenta é o povo ignorante e ignorado. E a cada vez que assistimos os mesmos programas e nos recusamos ao protesto, mesmo que ínfimo e de caráter estritamente subjetivo, interno á consciência, colaboramos com o projeto de dominação. Não é questão de radicalizar, mas questão de ter consciência e conversar com as pessoas. Pois a palavra é, acredito, a arma mais importante. O mal é sempre o que saí da boca, tanto o mal para o justo quanto o mal para o injusto que, por lógica, é um bem. Mas a guerra não vista é a pior: não mobiliza. O estado de torpor continua.